Apenas em 2019, foram 30 novos casos registrados em Catanduva
O mês de dezembro é marcado pela luta contra a AIDS. O movimento, criado em 1987 pela ONU e adotado no Brasil desde 1988, tem o objetivo de lembrar o combate à doença, mas também reforça a compreensão, solidariedade e apoio aos portadores do vírus HIV. Em Catanduva, existem 1.065 pessoas com HIV/Aids; 862 delas em tratamento. Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde.
Em 2019, foram 30 novos casos da doença. A maioria é de homens: 80%; seis mulheres tiveram resultado positivo. Do total, 13 têm ensino superior, 12 ensino médio, quatro pessoas têm o ensino fundamental e apenas um é analfabeto. Os dados também apontam para uma maioria de casos entre o público heterossexual, que concentra 16 diagnósticos: dez homens e seis mulheres.
“Nos últimos anos, percebemos um aumento no aparecimento de vírus de HIV por contato homossexual e heterossexual, principalmente entre os jovens, pois eles não têm percepção do risco, acham que não podem pegar ou se infectar”, alertou o infectologista Ricardo Santaella Rosa, cooperado da Unimed Catanduva.
A assistente social e coordenadora do Programa Municipal IST/Aids, Mileide Moraes Portapilla, lida diariamente com o atendimento a soropositivos. Ela enfatizou o aumento de casos entre os jovens. “Os jovens, principalmente, têm ignorado todas as formas de prevenção, visto que não vivenciaram a epidemia dos anos 80 e 90. Acham que a Aids não mata e que apenas com o tratamento estão bem protegidos. Sabemos que não é assim”, disse.
O vírus do HIV não é transmitido somente por relações homossexuais, mas também nas relações heterossexuais. Outra forma de transmissão é por meio de contato com sangue infectado, através de drogas injetáveis. “Na verdade, a maioria dos nossos pacientes são heterossexuais, sendo infectados tanto pela parceira quanto pelo parceiro”, completou Santaella.
A falta de proteção na relação sexual pelo uso da camisinha também possibilitou a volta dos casos de sífilis, doença que está mais resistente, além de outros enfermidades que também podem ser transmitidas pelo contato sexual.
HIV x Aids
A Aids é uma doença silenciosa que se manifesta em duas fases. Primeiro, pelo vírus HIV, que entra no organismo e mata as células de defesa. Esta fase pode levar entre dez a 15 anos e o infectado não apresenta sintomas. A doença se manifesta quando ocorre a síndrome da deficiência imunológica, que caracteriza a Aids.
Neste segundo estágio, a pessoa soropositiva apresenta doenças graves, como pneumonias, meningite, cânceres, neoplasias e uma série de doenças infecciosas. Se não tratada corretamente, a Aids mata. Em Catanduva neste ano, houve 22 mortes por conta do HIV/Aids. As vítimas foram 15 homens, seis mulheres e uma criança.
“A proteção é fundamental para evitar a doença. Além disso, também é disponibilizado o teste rápido. Qualquer unidade de saúde pode fazer e o resultado sai em menos de duas horas. O exame é gratuito”, alertou Santaella.
Tratamento
O tratamento, popularmente conhecido como coquetel, é um conjunto de remédios, com três diferentes pílulas, que são tomadas pelo soropositivo e ajudam a combater a Aids nas diferentes fases, com pouco ou nenhum efeito colateral.
“Hoje, acredita-se que se uma pessoa começar a se tratar desde o início, terá uma qualidade de vida normal se comparado a uma pessoa que não tenha doença”, completou Ricardo.
Um casal, sendo um ou ambos companheiros soropositivos, pode ter filhos, desde que haja o tratamento regular. Quem não tem a doença deve fazer o tratamento preventivo, fazendo com que a criança nasça sem o vírus e não seja infectado(a) pela relação sexual. “A mulher com HIV, se não faz o tratamento, tem de 20 a 25% de chance de passar o vírus para o bebê durante a gestação. Com o tratamento, não há transmissão”, disse o infectologista.
Caso real
Quem vive com a Aids enfrenta o preconceito diariamente. R. S. S., de 42 anos, foi infectado por um parceiro com quem tinha relacionamento há quatro anos. Ao descobrir, após uma investigação de uma tosse que não sarava, seu relacionamento acabou. A descoberta da doença o afastou da família e amigos. “Falei sobre o problema e isso se espalhou sem controle, o que gerou muito mal-estar e afastamento”, disse.
A discriminação predomina quando ele conhece uma nova pessoa, seja em aplicativos ou em baladas. “As pessoas gostam de fazer sexo sem camisinha e quando falo da minha condição, elas se afastam”, explicou. “Existem áreas profissionais em que a intolerância é mais presente. Inclusive, pessoas com curso superior são as mais preconceituosas. E, mesmo no meio de amigos, família e trabalho, há preconceitos”, completou.
Fazendo o tratamento há quatro e com a doença indetectável há três anos, R. S. S. tem dois empregos, pratica esportes, sai socialmente e tem poucos amigos próximos. Seu tratamento é feito com suplemento alimentar e vitamínico, além do coquetel, que ele toma sempre à noite.
“[O HIV] faz parte de mim, não levo como algo ruim. Não se morre de HIV, mas sim pelo preconceito que as pessoas têm sobre quem está com a doença. Hoje faço terapia para ajudar com tudo isso”, concluiu.
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